terça-feira, 15 de novembro de 2011

Teresa

Batem na porta, mas ela ainda finge estar dormindo. O som saindo do seu fone de ouvido está no máximo. Abrem a janela, ela cobre a cabeça com o edredom. Se pudesse, não sairia dali nunca. A canção toca como martelo, pregando água em seus olhos. O travesseiro úmido e salgado. Salgado. Era tudo salgado, cada camada de seu corpo era coberto de sal. Menos... menos seu coração. Esse ainda continha uma pureza, ainda não infectada. Mesmo assim, ela se contorce medo, muito medo. As lâmpadas queimam e ela sente medo. Precisava de afego. Precisava de um sorriso. Precisava de um amigo. Então abre os olhos e espera o sol ir embora, para então ter a certeza de que ela estava sozinha, mas que não era a única. Ela olha para a rua e vê as pessoas voltando de seus trabalhos, apressadas para jantar, assistir a novela das 9 e descansar seus pés. E então compreende que todas aquelas pessoas também precisavam de afego, de um sorriso e principalmente um amigo. Mas o estranho era que eles não pareciam se importar, do jeito que ela se importava. Confusa, ela vai para cama e umedece e salga o travesseiro de novo.
Ahh se ela soubesse que 5 anos depois, se tornaria um deles, que andaria pelas ruas ao anoitecer com seus pés cansados, pensando no que fazer para a janta. Se ela soubesse que ainda estaria sozinha. Se ela soubesse que quando acordasse ainda cobriria sua cabeça com o edredom e que seu coração cobriria-se de sal. Se ela soubesse que quando se escondesse no armário, ninguém iria procura-la. Ahh se ela soubesse... Ela nunca mais teria parado de fingir que estava dormindo.

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