segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Compaixão

4 horas da tarde. O ônibus vazio. 5 minutos antes, havia discutido com a minha mãe.
Em pé, até mesmo com lugares vagos. Cheia de problemas na cabeça, sem resoluções previstas.
E então, eu me rendi, e desmoronei.

As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, como se aquilo fosse natural. Meu coração gritando, meus dentes cerrados, e meus lábios fechados.
Como a vida poderia ser tão injusta assim comigo? Olhe a minha situação!
Naquele momento, senti o amargo gosto do ódio, que porcaria de vida era essa?
Ninguém poderia sentir mais dor, no fundo da alma, do que eu naquele momento.

Seria mesmo?
E então olhei a minha volta.
Será que todas aquelas pessoas, são felizes? Será que todas elas naquele momento estão bem? Como eu poderia saber, se seus corações não estavam sangrando também?

Logo a minha frente, havia um gari, com seu uniforme laranja, provavelmente voltando para casa. Aparentava uns 60 e poucos anos. Observei suas rugas, e pensei: "Será que era isso que ele esperava para o seu futuro, quando tinha minha idade? Será que ele gostava de trabalhar como gari, ou seria a pura necessidade?"
Provavelmente, as respostas não seriam muito positivas.

Nele eu vi um ser humano. Como deveria ver todas as outras pessoas.
Um ser humano com dores, amores, histórias, sonhos...
Ele sentado no seu canto, sem dizer uma palavra, e nem ao menos uma troca de olhares, me ensinou muito mais, do que muitos professores que ja tive. Me ensinou a deixar de ser egocêntrica, e a olhar para os outros. Afinal eu não sou o centro do mundo. Não sou o problema de tudo e de todos, não sou só eu que sofro, não sou só eu que choro. Não existe apenas eu, neste mundo.
As coisas não são, e não devem ser do jeito que eu quero. As coisas são, do jeito que elas devem ser.

Ok, tudo isso eu já sabia de cor e salteado. Mas nunca havia sentido tão intensamente. E isso me fez abrir os olhos.
Eu gostaria que todos, apenas por um momento, parassem um pouquinho suas vidas agitadas, e pensassem um pouco nos outros. Assim, o mundo teria uma chance, de ser diferente.
Mas hoje em dia, se vê um ser humano desconhecido, apenas como um copo descartável.

Hoje saí um pouco do padrão dos meus textos, mas isso, esse sentimento de compaixão ao próximo, também faz parte de mim. Por de baixo desse meu jeito egoísta, ainda existe amor.
E por mais que eu não goste e não queira admitir, eu não sou o centro do mundo. Talvez apenas do meu mundo.
Mas há muito mais mundos, além do que eu imagino e enxergo.

Karina Agnês

domingo, 19 de setembro de 2010

Voar

De repente eu acordo, e minha vida já não é mais a mesma.
O que aconteceu comigo?

Eu não amo mais as mesmas coisas que amava.
Eu não me importo, com o que deveria me importar.
Eu sofro pelo inevitável.
Eu me assusto com a realidade.
Eu tenho vergonha de ser quem eu sou.

Tenho uma vontade enorme de deixar tudo para trás, e sumir no mundo. Sem apegos, sem medos e sem fronteiras.
Gostaria de ter essa liberdade, e essa flexibilidade de ir embora.
Isso acabaria com os problemas, ou se não acabasse, me fizesse esquecer.
Queria sair, mudar quem eu sou, conhecer novos lugares, amar novas pessoas, ter novas experiências e quando me cansar, simplesmente sumir.
Mas algo, mais forte que eu, me prende.

Simplesmente queria me libertar das correntes e voar.

Karina Agnês

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Perder ou nunca ter?

Há alguns dias, essa pergunta vem me cercando:
Perder ou nunca ter?

Sempre tive a resposta na ponta da lingua: Claro que eu prefiro perder! Pelo menos eu vou ter tentado, e ter tido um pouco de felicidade.
Mas agora, que eu sinto as reais dores de perder, não tenho certeza mais de nada.
Parece que arrancaram um pedaço do meu corpo friamente, e me deixaram sangrando, sozinha, no meio do nada, sem o que fazer para parar de doer. Sem ter opção, sem ter coração, sem ter razão.

A dor da perda, é a pior dor que existe no mundo.

Fora que desejar perder, ao invez de nunca ter, é um desejo muito egoísta. É preferir ver você e muitas outras pessoas sofrendo, do que apenas sofrer sozinha, com o desejo reprimido de nunca ter.

Será que vale a pena?
Ter um amor imenso sentido, cuidado e moldado. Para depois ele ser despedaçado em mil pedaços, sem nem mesmo um mínimo aviso prévio?
Será?

Mas neste momento eu não tenho escolha, é sofrer ou é sofrer. Já havia feito minha escolha, agora tenho que aguentar as consequencias.
E por meu egoísmo, muitas outras pessoas terão de aguentar também.
Além da dor da perda, o peso da culpa.

O jeito é fazer o que eu sempre faço. Fechar bem os olhos para a realidade e pedir para que Deus me leve para um lugar bom, um momento de paz. Seja ele do futuro ou do passado. Ou apenas dos meus sonhos.
E esperar. Esperar a dor diminuir. Esperar o furacão passar, para ver a real destruição causada na minha vida, e poder enfim caminhar e seguir em frente, mesmo com meu coração sangrando.

Não importa em quantos pedaços seu coração foi partido o mundo não pára para que você o conserte. - Shakespeare.

Karina Agnês